quarta-feira, 19 de março de 2008

O melhor dinheiro... ops, democracia

Na minha cruzada anti-EUA de hoje, fiquei curioso com a "arrancada" do ultra-direitista republicano McCain sobre os democratas-enrolados-petistas Barack Obama e Hilary Clinton nas eleições norte-americanas.
Lembrei-me logo de Dom Quixote de La Mancha e de Sancho Pança, ops, de Michael Moore e Greg Palast.
As eleições que George Bush não ganhou mas levou sobre Al Gore, em 2001, tiveram inúmeros fatos pitorescos - para não tascar logo suspeitos - que garantiram a vitória do partidário de McCain. Só para citar um, a quantidade de negros e latinos que estavam em "situação irregular". Eram, majoritariamente, eleitores de Gore. Esta "triagem democrática" foi feita na Flórida, estado governado pelo irmão por Jeff Bush. Quando todas as pesquisas davam a vantagem de Gore, a CNN tascou uma pesquisa que apontava a vitória de George sem qualquer sombra de dúvida. O diretor de jornalismo, por coincidência, era o primo de Bush. Todo mundo foi atrás.
Mesmo assim, Gore teve mais votos populares numa contagem absolutamente controvertida, quando foram anuladas sessões inteiras onde as pesquisas apontavam sua vantagem.
Curiosamente, atual e fabulosa recuperação de McCain, defensor incondicional da guerra do Iraque - e do lucro que rende aos sócios de Bush - ocorre na mesma hora em que as manifestações contra a guerra se avolumam. Uma contradição que levanta suspeitas. O cenário e as ferramentas parecem idênticos ao que deu a não-vitória a Bush, mas o levou à Casa Branca.
De novo, vou dar trabalho: o documentário "Fahrenheit 11 de setembro", de Moore, tem um capítulo exclusivo à eleição de Bush. E o livro do jornalista Greg Palast "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar" - que serviu de roteiro a Moore no tal capítulo - esmiúça as informações.
Faz enrubecer, para usar uma palavra menos comum, quem tiver o mínimo de compreensão do que é uma democracia. Com certeza, nem para si mesmos, os EUA são bom exemplo de democracia. E lá vão eles carimbar os outros de ditadores... Ah, sim, a história do dinheiro... Boa leitura!

O menos achado do mundo

Nem os vários trapezistas de madeira que eu ganhei de presente do meu pai, quando era pirralho, tem cara de pau tão grande quanto George Bush. Ele "comemorou" os cinco anos da Guerra no Iraque e, candidamente, considera positivo o resultado do massacre idêntico ou até pior do que o imposto por Saddam Hussein, que ele mesmo ajudou a armar quando lhe interessou e sobre quem inventou boas metiras para começar a brincar de Rambo, como o Iraque estar de posse de armas nucleares.
Mas esse "aniversário" me despertou uma curiosidade que quero dividir com meus 3 leitores assíduos... Em 2003, os EUA que iniciaram a guerra contra o Iraque por conta das armas nucleares que o Iraque nunca teve e para combater o terrorismo patrocinado pelo Al-Qaeda quando atacou as torres gêmeas, em Nova Iorque, dois anos antes, em 11 de setembro de 2001.
A comissão nacional sobre ataques terroristas (EUA) acusou o Al-Qaeda como responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas no atentado às torres gêmeas e elegeu Osama Bin Laden o terrorista-mor e inimigo número 1 dos EUA.
Em 3 anos, Saddam Hussein foi capturado, julgado e estava morto por enforcamento em 30 de dezembro de 2006. Bem ao gosto de Hollywood - julgamento espalhafatoso com auto-defesa e enforcamento "secreto" que por pouco não foi transmitido ao vivo pelas televisões de todo o mundo como era o "bombardeio cirúrgico" de Bagdá: "o míssel acaba de cair na cabeceira da cama da 32ª esposa de Saddam, onde ele deveria estar dormindo nesta noite".
Logo entraremos no 7º aniversário do atendado às torres gêmeas e o inimigo número 1 dos EUA e terrorista-mor não está nem perto de ser capturado. Aliás, a não ser quando ele mesmo resolve mandar notícias, ninguém mais fala nele. Bin Laden está no esquecimento. A mesma força militar que encontrou Saddam enterrado, sujo, humilhado, mas vivo, nem passou perto de achar Bin Laden, o terrista-mor e inimigo número 1 dos EUA!! Observe que no Wikipédia se lê que "Bin Laden é o homem mais procurado do mundo". Provavlemente continuará sendo o "menos achado do mundo" também.

Por que tanta eficiência para destronar, julgar e matar o ditador Saddam (aliás, para os EUA a América Latina está cheia deles e a mídia tupiniquim é pródiga em repetir a cantilena) e tamanha ineficácia para encontrar Bin Laden?
O documentário "Faharenheit 11 de setembro" de Michael Moore tem respostas rápidas para esse "tratamento especial" a Bin Laden. Quem tiver um pouco mais de tempo também pode ler "Stupid Withe Men" do mesmo Moore.
Uma dica: no mesmo dia em que todos os estadunidenses estava proibidos de voar para qualquer lugar que fosse, quando os céus dos EUA ficaram limpos de qualquer vôo civil fretado ou de carreira por conta do ataque às torres gêmeas, 198 membros da família "Laden" - empresários com inúmeros e lucrativos negócios no Oriente, nos EUA e na Europa - eram levados de volta para casa num vôo pago pelo Governo norte-americano, capitaneado por George Bush... O documentário de Moore tem cenas de afagos explícitos entre os Bush e os Laden... Claro que nunca vão achar, condenar e enforcar o Bin!
Saddam, que fora aliado mas já não estava mais tão amiguinho dos EUA, e além de tudo dormia sobre a maior reserva de petróleo do mundo e a 2ª maior reserva de água doce subterrânea do planeta, dançou. Aliás, também não acredito que a guerra dure até hoje por que os iraquianos estão satisfeitos com a presença e com a política dos EUA na sua casa. Ou as mostras de satisfação mudaram muito, ou, penso eu, que os iraquianos ainda não consideram boa idéia os EUA defecarem milhares de mísseis nas suas janelas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Aprenda na "Escolinha do Lula"


A foto é de Fábio Pozzebon/Abr

Nem ia me dar o trabalho de escrever, mas tinha que dar um pitaco na boa matéria do Correio Braziliense, à página 20, edição de hoje. Até a pedra que mora na esquina da minha rua sabe que o Brasil não está o sonho, ou a utopia, que sempre se pretenderá. Por isso o Correio, apesar do crescimento do PIB durante o governo Lula já ser superior ao dobro do crescimento durante o Governo FHC (xodózinho da mídia nacional), começou desmerecendo por ser "apenas" 5,4%.
Mas vale ler toda a matéria, para se ouvir afirmações tipo "crescimento virtuoso e sustentado", "crescimento disceminado", "equilibrado", crescimento dos investimentos, das rendas, garantia de mercado e por aí afora... Mesmo assim, veja a última frase da matéria, há quem não queira pagar os tributos...

Ah, sim, dá prá saber por que o tucanato e o demo faz oposição cortando dinheiro da saúde??

"COMO O PIB CRESCEU 5,4%"
Vicente Nunes - Da equipe do Correio


Consumo das famílias e vigor dos investimentos foram determinantes para o resultado de 2007. Expansão média no governo Lula fica em 3,8%

O Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, surpreendeu os mais otimistas dos analistas e registrou crescimento de 5,4% em 2007 — o consenso do mercado apontava para um aumento entre 5% e 5,2%. Foi o melhor resultado desde 2004, quando avançou 5,7%. O consumo das famílias, com incremento recorde de 6,5%, e o vigor dos investimentos, com alta de 13,4%, também recorde, foram determinantes para que a economia brasileira rompesse de vez com o padrão que vigorou entre 2003 e 2005, em que o setor externo dava o tom da expansão do país. No ano passado, inclusive, as operações com o exterior tiraram, pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,4 ponto percentual do PIB. Ou seja, se fosse levada em consideração apenas a demanda doméstica, o Brasil teria computado crescimento de 6,9%. O PIB atingiu a marca dos R$ 2,6 trilhões. Já o PIB per capita, resultado das riquezas do país divididas pela população, cresceu 4%, também o melhor resultado desde 2004 (+4,2%), alcançando R$ 13.515.

Com o desempenho do ano passado, a média de expansão do PIB no governo Lula ficou de 3,8%, bem superior aos 2,3% de média computados nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Mas, ainda que tenha havido avanço nos números, o Brasil está longe de alcançar o desempenho dos países emergentes. De 39 economias pesquisadas pela consultoria Austin Rating, com crescimento médio de 5,6% ao ano, o Brasil aparece na 35ª posição. “O mais importante é que houve uma mudança de patamar de crescimento do país. É muito provável que o incremento do PIB em 2008 fique próximo dos 5%, superando a média mundial (de 4,2%, segundo o Fundo Monetário Internacional)”, disse o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero. Essa previsão foi endossada pelos economistas Fábio Fonseca, do Ibmec Business School, e Luíza Rodrigues, do Banco Santander.

Segundo Cláudia Dionísio, economista do IBGE, do lado da oferta, todos os setores da economia tiveram desempenhos expressivos em 2007, com destaque para a agropecuária, com crescimento de 5,3%. As atividades do campo foram impulsionadas pelas lavouras de trigo, com aumento de 62,3%, de milho (+20,9%), de cana-de-açúcar (+13,2%) e de soja (+11%). Já a indústria computou incremento de 4,9%, graças, sobretudo, ao segmento de transformação, com alta de 5,1%, à construção civil e à área de energia, com avanço de 5%. Nos serviços, que cresceram 4,7%, o destaque foi o sistema financeiro, já que os bancos ampliaram substancialmente as operações de crédito. “Foi um crescimento disseminado e bastante equilibrado”, assinalou.

Ela chamou a atenção para o forte aumento da renda dos brasileiros — a massa salarial cresceu 3,6% — e do maior volume de crédito (28,8% acima de 2006). Com mais dinheiro no bolso e mais empréstimos, os brasileiros foram às compras e estimularam as empresas a investirem, diante da certeza de que venderiam seus produtos. “Por isso, os investimentos recordes. Esse é o que chamamos de ciclo virtuoso e sustentado da economia”, ressaltou Fábio Fonseca. Pelas contas de Cláudia Dionísio, tanto o consumo das famílias quanto os investimentos cresceram pelo quarto ano consecutivo, o mais longo ciclo desde 1996, início da série do IBGE.

A disposição dos brasileiros para gastar engordou os caixas dos governos federal, estaduais e municipais em R$ 367,9 bilhões em imposto sobre produtos, saldo 9,1% maior. Cresceram, especialmente, o Imposto sobre Importações (+23,6%) e o Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI (+14,1%). O consumo maior também estancou a taxa de poupança do país em 17,7% do PIB, o que levou a uma necessidade de financiamento externo de R$ 4,5 bilhões.

Crítica a palpites
Dentro do governo, o PIB de 2007 foi motivo de festa. Para o presidente Lula , o crescimento da economia foi visto “de forma muito gostosa”. Ele criticou, porém, os “palpites” de economistas. “Está cheio de analista econômico dando palpite, e se a gente fosse aceitar os palpites de todos, a gente ia embora porque o Brasil ia acabar” disse. Lula destacou ainda que os 5,4% divulgados ontem pelo IBGE ainda serão revisados. A expectativa do Palácio do Planalto é de que o número final do PIB seja de 5,7%, igual o de 2004. “É importante lembrar para os céticos que uma parte do sucesso da economia brasileira está subordinada ao crescimento do mercado interno, porque os pobres estão comento mais, estão vestindo mais”, acrescentou o presidente.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o resultado do PIB foi “excelente”, mas não deveria ser visto com excesso de euforia. Ele afirmou que o objetivo do governo é manter um ritmo de crescimento gradual para evitar desequilíbrios na oferta de produtos ou a alta da inflação. “O Brasil vive um ciclo de crescimento econômico sustentável que vai continuar nos próximos anos. Não é um crescimento momentâneo, de um ou dois anos. Já estamos há quatro anos acima de 3%”, constatou. Em nota, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou que os resultados da economia, com crescimento “robusto” e inflação dentro da meta, mostram que a política monetária foi bem sucedida. (Colaborou Ricardo Allan)

Na escolinha do professor Lula

5,7% crescimento do consumo das famílias em 2007

13,4% aumento do total de investimentos

2 número de anos seguidos em que o Brasil bate recorde nos itens acima

4% crescimento do PIB por habitante, a segunda maior expansão desde 1996

6,2% avanço do PIB no terceiro trimestre de 2007 em relação ao mesmo período de 2006

36,08% carga tributária do país, com crescimento de 1,02 ponto percentual em relação a 2006. Nem tudo é perfeito…

e à página 21...
"INVESTIMENTO CRESCE, MAS É BAIXO"Vicente Nunes - Da equipe do Correio


Empresários constroem fábricas e ampliam a produção para atender o consumo, chegando a 17,6% do PIB. Esforço continua insuficiente para sustentar expansão econômica de 5% ao ano, como quer o governo

A estabilidade econômica, o forte aumento do consumo e a queda da taxa básica de juros (Selic) — de 15,1%, em 2006, para 11,9%, no ano passado — foram fundamentais para o avanço de 13,4% dos investimentos produtivos. No total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as empresas destinaram R$ 449,5 bilhões para a construção e a ampliação de fábricas, volume correspondente a 17,6% do Produto Interno Bruto (PIB). “Trata-se da maior relação entre investimentos e PIB desde 2000, início da série histórica. Em 2006, esse indicador estava em 16,5%”, disse Cláudia Dionísio, economista do IBGE.

Apesar dos números expressivos, os especialistas acreditam que a taxa de investimentos ainda é muito baixa para garantir um crescimento sustentado superior a 5%, como prevê o governo. “Não há como falar em expansão contínua em ritmo firme, sem elevar os investimentos para mais de 20% do PIB. Com a atual taxa, o crescimento pressionará a inflação, exigindo que o Banco Central eleve os juros”, afirmou a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander. Na China e na Índia a taxa ronda os 40% do PIB. Mesmo em relação aos vizinhos da América Latina, o Brasil está na rabeira, pois a média da região é de 23% do PIB.

Na avaliação da analista para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Érica Fraga, se quiser ampliar a taxa de investimentos, o Brasil terá de encarar reformas adiadas nos últimos anos, como a tributária e a trabalhista. “É o único jeito de aumentar a competitividade do país”, assinalou. “Em 2006, num grupo de 146 países, a taxa de investimentos do Brasil estava na 128ª posição.”

domingo, 9 de março de 2008

Roda Viva

Volto a postar informações sobre o programa Roda Viva, depois que passaram-se as edições gravadas e o programa volta ao vivo.
O entrevistado desta semana é o deputado federal José Eduardo Cardozo, do PT de São Paulo. Com certeza tem pano prá manga. O programa vai ao ar a partir das 22h40min desta segunda-feira, na TV Cultura.



José Eduardo Cardozo
Deputado Federal e Secr etário-geral do PT


Em ano eleitoral, PT e PSDB enfrentam-se não apenas nas urnas nas eleições municipais do final do ano, mas também no Congresso. A acirrada disputa pelo comando da CPI dos Cartões colocou frente a frente, mais uma vez, os adversários PT e PSDB. Sem apoio de outras bancadas governistas, o PT foi obrigado a ceder. Os tucanos ficaram com a presidência e os petistas com a relatoria.

Existem outras batalhas imediatas que vão contrapor governistas e oposição: a Reforma Tributária, Política e o número de Medidas Provisórias do Governo.

O convidado do programa Roda Viva desta segunda-feira, José Eduardo Cardozo, fez carreira política no Partido dos Trabalhadores, onde está desde o ano da sua fundação, em 1980. Primeiro foi vereador de São Paulo e depois Deputado Federal. Recentemente foi eleito Secretário-geral do PT.

Participam como convidados entrevistadores:
Luiz Weis, colunista do Observ atório da Imprensa e colaborador do jornal O Estado de S. Paulo; Renata Lo Prete, editora do Painel do jornal Folha de S. Paulo; José Márcio Mendonça, jornalista e editor do blog A Política Como Ela É; César Felício dos Santos, Repórter de política do jornal Valor Econômico; Ilimar Franco, colunista do jornal O Globo em Brasília; Otávio Cabral, Repórter da revista Veja, em Brasília.

Apresentação: Carlos Eduardo Lins da Silva

Lançado o PIG

Vi nos blogs dos jornalistas Paulo Henrique Amorin (Conversa Afiada) e Luiz Carlos Azenha (Vi O Mundo) o lançamento do "PIG" - Partido da Imprensa Golpista. E não faltam informações para mostrar como a mídia nacional prima mais ou menos pela "liberadade" e "independência", conforme estão em jogo os interesses "nacionais". Na linguagem da elite, interesses do Brasil, são os seus próprios.
Três exemplos recentíssimos que mostram como se comporta a mídia nacional em relação ao governo do peão nordestino que chegou à presidência da República:
1 - o lançamento do programa de urbanização de três favelas cariocas, que investirá R$ 1,14 bilhão (leia mais aqui) não encheu a capa nem dos diários cariocas. Nem pelo ineditismo que têm. Aliás, não faltam os que chamam de paternalista, eleitoreiro, demagógico, populista. Seria diferente se as obras fossem na orla da praia de Copacabana ou se o presidente a subir o morro fosse o "sociólogo" FHC! Talvez por que elite nunca vai ao morro mesmo. De vez em quando prá comprar drogas. Já Lula, como é "peão" mesmo, bom, não é novidade, ele é de lá mesmo.

2 - Final do ano passado. A mídia nacional revelou sua aliança com DEM (PEFELÊ) e PSDB para derrubar a CPMF, que isentava os trabalhadores com renda até três salários mínimos por meio de uma compensação no INSS, mas juntaria, neste ano, cerca de R$ 40 bilhões da classe média e da elite para financiar a saúde e os programas de bolsa aos pobres do Governo Federal. Em nenhum momento se ouviu que os trabalhadores com renda até três mínimos eram isentos. A mídia comemorou com a oposição. Semana passada, outro baque sobre a saúde pública - que boa parte da classe média só usa quando seu plano de saúde não cobre e a elite só usa por decisão judicial, quando o custo do tratamento seria elevado demais. Os partidos de oposição comemoraram o vencimento da Medida Provisória que suplementava recursos permitindo o reajuste da tabela do SUS, que paga os serviços prestados por profissionais ou instituições privadas ao sistema público de saúde. Leia-se, paga os serviços no atendimento à saúde dos pobres. Esqueceram-se que eles mesmos defendiam reajuste da tabela por que "a saúde pública é um caos". Todo mundo quer um serviço público de saúde com qualidade e melhor remunerado. Menos a oposição. Claro, eles não usam serviço público de saúde. Nada na imprensa, e quando surgir, é por culpa do governo, que apresentou o reajuste por meio de Medida Provisória.

3 - O Governo está pelas tabelas para tentar aprovar o Orçamento da União 2008 por conta da obstrução permanente dos partidos de oposição. Os recursos do Orçamento são aqueles que servem para financiar obras, pagar folha, fazer transferências, investir em educação e saúde, e por aí afora. Como estamos em ano eleitoral, a oposição quer ver o país se arrebantar para tentar que o PT e alguns partidos coligados se dêem mal nas eleições municipais. A partir do final do mês, se o orçamento não for aprovado, o governo federal não terá como fazer transferências, continuar obras, etc. Aí, a oposição terá "argumentos" nas eleições municipais. Ah, sim, e a culpa é do Lula, esqueci disso, enquanto em anos anteriores, a mídia toda voltava-se contra a oposição. Sim, só quando a oposição era o PT. Hoje, ninguém houve falar em irresponsabilidade da oposição. Claro, é tudo farinha do mesmo saco.

Alguém tem dúvida sobre por que os índices de aprovação do Governo Federal e do presidente Lula crescem sem parar? Parece que o "povão" se deu conta de quem é quem nesse jogo.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Veja, quer dizer, leia.

Aos ainda fãs, leitores assíduos, catequizados ou seguidores "bíblicos" da revista Veja, deixo aqui o link de um "dossiê" do jornalista Luiz Nassif (a Veja é que gosta de dossiês,) que traz uma análise histórica da revista. Nassif fez um levantamento meticuloso, cirúrgico, e não economiza torpedos:
"aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico", bombardeia logo de cara, para conceituar a revista logo depois: "um misto de senso comum com matérias brilhantes, tendo como foco uma classe média não muito sofisticada".
Vale dedicar um tempinho.
Clique aqui. Leia de uma vez ou a conta-gotas.

Sorria, Dilma!

O presidente Lula fez um super teste, hoje, com a ministra Dilma Roussef, que seria sua preferida para sucedê-lo no Palácio do Planalto, ao lançar o PAC das comunidades carentes do Rio de Janeiro. É o primeiro projeto do poder público para urbanização efetiva e dotação com os serviços essenciais de favelas brasileiras. Levantou a bola da ministra Dilma, que parece continuar não muito à vontade em eventos públicos. Se continuar assim, perderá a chance de se tornar a primeira mulher presidente (ou presidenta) do Brasil. Fez caras e bocas. Simpatia, mesmo, pouca.
Lula tem razão ao afirmar que, se tivesse lançado o programa de urbanização das favelas em 2006, teria sido taxado de "eleitoreiro e populista". Aliás, o é, da mesma maneira, mesmo que não seja candidato em 2010. "Mas terá seus apadrinhados nesta eleição". Aliás, todo o programa do governo que atenda os historicamente excluídos é eleitoreiro. E no Brasil, com eleição a cada ano, só sobrariam dois para efetivar políticas públicas concretas.
Para usar um argumento que não exija muito esforço do cérebro, por que os marqueteiros de plantão nunca usaram como "estratégia de marqueting" fazer obras de urbanização e de serviços essenciais para tornar maior a presença do poder público nos lugares onde só entra como força policial repressora?
Talvez por que dar cidadania à milhões de brasileiros, empurrados para os morros desde a "abolição" da escravatura, custa caro demais, principalmente aos "pudores" daqueles que só querem dar direitos aos que já têm. Aos pobres, é "comprar seu pensamento", ou seu voto.

sábado, 1 de março de 2008

Como é uma sociedade capitalista

A matéria do Marcos Losekan, sobre a Rússia (clique, para saber mais sobre o país), no Jornal Nacional de hoje, sábado, é uma aula de sociedade capitalista.
Tem VT do Papa, tem do assassinato do guerrilheiro número 2 das FARC e até de um galo catarinense, mas ainda não achei essa matéria da Rússia no site do JN para linkar aqui, mas sintetizo e emendo minha "análise":
eleições lá neste domingo e o candidato favorito é Dmitry Medvedev, apoiado por Vladimir Putin, que instituiu o capitalismo neoliberal na Rússia.
Hoje, o ex-país comunista tem a maior concentração de liberais e novas fortunas do planeta. 36 cidadãos concentram 10% do PIB!!! No outro extremo, tem 22% da população - ou quase 35 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e comendo lixo. Entre os 36 "cidadãos de sucesso", como seriam chamados por aqui, e os 35 milhões de "vagabundos e fracassados" que passam fome, 115 milhões de russos de "classe média" que darão a vitória a Medvedev. Sim, por que sonham que poderão ficar tão ricos quanto os 36 que concentram 10% do PIB, e acham maravilhoso o mundo capitalista de passeio no shopping e consumo "à vontade" (até que o dinheiro dê, mesmo que estourando o cartão de crédito, afinal, o sonho - ou a ilusão - de ser rico não tem preço).
Grosso modo, essa estratificação não é diferente no Brasil. Apenas aqui não é tratada assim, tão abertamente.
"Não tínhamos liberdade mas também não passávamos fome", traduziu Losekan de um catador de lixo. Liberade para ir ao shopping? Escola particular? Comer o mesmo que todos os outros russos? Ter plano de saúde e de aposentadoria particulares? Para viajar para onde quiserem? Ou para ir ao jornal, rádio e TV e falar o que quiser? Ou para reclamar sem que ninguém lhe dê ouvidos? Não me parece que quando não há o que comer, haja recursos para as "outras coisas boas" do capitalismo.
E quando ao ideal de justiça social? Bom, a atual classe média não vai ficar preocupada com "fracassados", nem olhando para o "passado comunista", por que o futuro é acreditar que pode chegar a ser um dos 36, afinal, tem todos os pré-requisitos e méritos suficientes para isso, como tem em qualquer lugar do mundo.
Vale como registro: o IDH russo ainda é elevado (0,802), por conta dos serviços sociais amplos que restaram do "comunismo". Maior que o brasileiro, depois de 500 anos de capitalismo e alguns de "milagre" neoliberal (0,800) e que motivou a chacota dos "revolucionários" de plantão por que, ano passado, o Brasil entrou no faixa dos "elevados".
O que vendem ao povo russo é o mesmo sonho que vendem em qualquer país capitalista. Daí, três deduções, considerando a história recente:
Somos todos uns otários a serviço de alguns poucos - uns até se dão conta, outros, nem isso.
O povo cubano tem mais um forte motivo para não abandonar o socialismo - como comemoraram os "libertários" aboletados nos EUA e outros cantos "democráticos" do planete - e vão levar isso em conta, até por que seu pior mal é o embargo criminoso dos EUA e não a alegada falte de "liberade individual".
Em toda a nação capitalista - e aqui não é diferente - a maior massa de manobra é a classe média, que usa da sua educação e dos seus argumentos para construir a injustiça social que interessa aos donos do capital. Por isso mesmo ouvimos urros indignados antes, durante e depois da reeleição de Lula.
Os fantoches não tinham dado conta do recado. Leia-se: derrotar Lula. Ou alguém ainda pensa que o "povão" pode falar no rádio, na TV e nos jornais? Ou até aqui, na Internet?
Daí também dá prá entender por que o "demagogo latino-americano" (kkk) continua vendo sua aprovação subir enquanto "o país se desmancha em corrupção", como se nunca houvera. Melhor agora, que, pelo menos, não fica escondida debaixo do tapete como faziam ficar a elite e boa parte da mída até pouco tempo e até a Polícia Federal arregaçou as mangas.
Por sua vez, o "povão" brasileiro aprendeu que pode ter opinião conforme vê seus interesses atendidos. Do mesmo jeitinho que fazem a classe média e a elite. Fico do lado do "povão" que, pelo menos, é a maioria de pessoas do país. Ah, tá, quando se atende à maioria "desqualificada" é populismo. Pô, desculpa aí. Então sou populista.

Dia do trabalhador antecipado

Manchete tímida no Correio Braziliense de ontem (sexta, 29): PAÍS NUNCA EMPREGOU TANTO NUM INÍCIO DE ANO. Pela primeira vez no país - é o que está escrito no Correio (Lula diria: nunca na história desse país, mas viraria chacota dos "esquerdistas" de plantão) - 51,1% das pessoas ocupadas são trabalhadores formais, empregados com todos os direitos trabalhistas respeitados. No início do do governo Lula eram 42,% os trabalhadores formais. Mas 49% ainda sofrem em subempregos para garantir o lucro dos patrões. Os louros vão para os patrões que estão confiantes no crescimento sustentado da economia. Se houver algum problema, aí sim, é culpa do governo. Deixa prá lá.
Os trabalhadores tiveram hoje outro ganho: o valor do novo salário mínimo, de R$ 415,00. 9,21% de reajuste, com ganho real perto dos 4%. A Medida Provisória foi assinada na sexta-feira e vale a partir deste dia 1º.
O DIEESE estima que serão injetados R$ 1,6 bilhão por mês na economia. Mais um argumento para quem considera que a distribuição de renda e riqueza é o melhor caminho para movimentar a economia, promover o crescimento de modo parecido em todo o país e reduzir as injustiças sociais. O mesmo DIEESE estima que para atender à Constituição, o salário mínimo deveria ser pouco maior que R$ 1,9 mil. Se a remuneração ao trabalhador pela sua mão-de-obra continuar sendo reajusta acima da inflação, acrescida do aumento do PIB e objetivando a distribuição da renda e da riqueza produzidos pelo trabalhador, é possível chegar lá. O grande nó é o pagamento das aposentadorias e pensões - que promovem distribuição de renda nos lugares mais pobres do país - e a economia das pequenas prefeituras. Bom, que tal tributar mais as grandes fortunas que, proporcionalmente, são as que menos pagam impostos??
Os demos e tucanos, que defenderam o fim da CPMF preocupados com a população mais pobre,poderiam defender essa bandeira.
PS.: O Dia do Trabalhador - e não dia do trabalho como tentam descaracterizar alguns - é dia 1º de Maio. Até lá, explico por que é do trabalhador e não do trabalho.

Fim da CPMF serviu para engordar o lucro

Demorou mas alguém falou: o fim da CPMF não provocou redução de preços ao consumidor. Agora, os empresários tem "outros custos que o consumidor nem sabe" - nem mesmo o empresário que deu a entrevista - para não reduzir em 0,38% o preço do produto que o consumidor leva para casa. Os mais honestos dizem que estão separando o valor que seria pago em CPMF para financiar novos investimentos. A maioria, no entanto, esquece de dizer que o dinheiro serviu tão somente para aumentar o lucro. Por outro lado, o consumidor continua tão desinformado quanto antes, como a dona de casa que não punha as contas em débito automático para não pagar a CPMF. Só estaria livre se o dinheiro não passasse em momento algum pela conta bancária. E como ela fala em transferência entre as contas da família, é bem provável que o dinheiro estava lá e o débito em conta não ocorria por pura desinformação.
O Jornal Nacional fez matéria sobre o fim da CPMF hoje, mas não falou que os trabalhadores com renda até 3 salários mínimos recebiam como compensação pela CMPF uma redução do mesmo valor na parte que contribuem ao INSS.
Também ninguém falou que a tributação sobre os mais pobres e a redução nos preços foram os dois principais argumentos da oposição ao governo federal para derrubar a "contribuição" obrigatória e que nem um, nem outro, eram verdadeiros.
Quem tem renda mais elevada e, principalmente, que não declara boa parte da sua renda continuam levando o bolo prá casa.
Os trabalhadores com renda até 3 salários mínimos, que não pagavam CPFM por conta da compensação na contribuição previdenciária, por um lado continuam engordando o lucro dos patrões, que não reduziram o imposto que congelava a economia nos custos pagos pelo consumidor, por outro, sentem-se ameaçados pela redução da qualidade nos serviços públicos de saúde e até mesmo, os mais 'quebrados' na Bolsa Família.
Para boa parte da classe média e da elite, que passam longe desses serviços públicos, não fará diferença alguma, mesmo que o serviço melhore ou viesse a melhorar com a CPMF. Talvez os serviços de má qualidade virem matéria, de novo, quando for para anular algum outro tributo que transfira renda para as populações mais empobrecidas. É só esperar.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A Carta de Fidel

Lúcido, resultado do seu profundo conhecimento, o artigo do frei Betto sobre a renúncia de Fidel e Cuba que acabei de pegar da Caros Amigos.
Me chamaram especial atenção duas afirmações: Aliás, nenhum dos que se evadiram do país prosseguiu na defesa dos direitos humanos ao inserir-se no mundo encantado do consumismo...
O consumismo, ou a falta dele, em Cuba, é argumento corrente daqueles que criticam o regime cubano, principalmente logo depois de uma visita ao shopping onde torraram algumas centenas de reais e onde a entrada da grande maioria dos brasileiros é vetada por que não tem nem dinheiro para gastar lá nem mesmo para pegar o ônibus até ele. Grande parte das vezes, torraram em pão e leite no café da manhã toda sua "fortuna". É provável que para estes, que não tem nem café da manhã, nem educação e saúde de qualidade, Cuba seria o paraíso. Já para aqueles que estão no degrau da classe média acima, e podem comprar suas futilidades no shopping e na feira, sua educação nas escolas privadas caras e a saúde em clínicas e hospitais de renome, Cuba é mesmo impensável...
Outro trecho explica a "ilha": "Os cubanos sabem que as dificuldades são enormes, pois vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética; bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA."
Joga-se pedras contra Fidel, mas esquece-se do algoz EUA, defensor incondicional da democracia, nem que tenha que massacrar todo um povo, que tripudia sobre sua ilha "particular" de férias desde a revolução e só não fez pior por conta da ousadia, então, de Raul Castro, que os obrigou a recuar depois da aproximação de Cuba com a URSS, durante a guerra fria.
Os ideais são uma meta que não pode ser afastada. O caminho a percorrer até lá é a realidade, dura e crua...
Bem, o artigo de Frei Betto é muito melhor do que o que eu escrevo.

A carta de Fidel

por Frei Betto

Fidel Castro, 81, "renunciou" às suas funções de presidente do Conselho de Estado de Cuba e Comandante-em-Chefe da Revolução. Entregue aos cuidados de sua saúde, prefere manter-se fora das atividades de governo e participar do debate político – que sempre o encantou – através de seus artigos na mídia. Permanece, porém, como membro do Birô Político do Partido Comunista de Cuba.

No domingo, 24, Raúl Castro, 77, será eleito, pelos novos deputados da Assembléia Nacional, para ocupar as funções de primeiro mandatário de Cuba.

Esta é a segunda vez que Fidel "renuncia" ao poder. A primeira ocorreu em julho de 1959, sete meses após a vitória da Revolução. Eleito primeiro-ministro, entrou em choque com o presidente Manuel Urrutia, que considerou radical as leis revolucionárias, como a reforma agrária, promulgadas pelo conselho de ministros. Para evitar um golpe de Estado, o líder cubano preferiu renunciar. O povo saiu às ruas em seu apoio. Pressionado pelas manifestações, Urrutia não teve alternativa senão deixar o poder. A presidência foi ocupada por Osvaldo Dorticós e Fidel voltou à função de primeiro-ministro.

Estive em Cuba, em janeiro deste ano, para participar do Encontro Internacional sobre o Equilíbrio do Mundo, à luz do 155º aniversário de nascimento de José Martí, figura paradigmática do país. Retornei em meados de fevereiro para outro evento internacional, o Congresso Universidade 2008, do qual participaram vários reitores de universidades brasileiras.

Nas duas ocasiões encontrei-me com Raúl Castro e outros ministros cubanos. Reuni-me também com a direção da FEU (Federação Estudantil Universitária); estudantes da Universidade de Ciências Informáticas; professores de nível básico e médio; e educadores populares.

Ilude-se quem imagina significar a saída de Fidel o começo do fim do socialismo em Cuba. Não há nenhum sintoma de que setores significativos da sociedade cubana aspirem à volta ao capitalismo. Nem os bispos da Igreja Católica. Exceção a uns poucos que, em nome dos direitos humanos, não se importariam que o futuro de Cuba fosse equivalente ao presente de Honduras, Guatemala ou Nicarágua. Aliás, nenhum dos que se evadiram do país prosseguiu na defesa dos direitos humanos ao inserir-se no mundo encantado do consumismo...

Cuba não é avessa a mudanças. O próprio Raúl Castro desencadeou um processo interno de críticas à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de 1 milhão de sugestões ora analisadas pelo governo. Os cubanos sabem que as dificuldades são enormes, pois vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética; bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA.

Malgrado tudo isso, o país mereceu elogios do papa João Paulo II por ocasião de sua visita, em 1998. No IDH 2007 da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Os primeiros setenta países são considerados os melhores em qualidade de vida. Cuba, onde nada se paga pelo direito universal à saúde e educação de qualidades, figura em 51º lugar.

O país apresenta uma taxa de alfabetização de 99,8%; conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (1 médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 por cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados em 67 universidades, nas quais ingressam, por ano, 606 mil estudantes.

Hoje, Cuba mantém médicos e professores atuando em mais de 100 países, incluído o Brasil, e promove, em toda a América Latina, a Operação Milagros, para curar gratuitamente enfermidades dos olhos, e a campanha de alfabetização Yo si puedo (Sim, eu sou capaz), com resultados que convenceram o presidente Lula a adotar o método no Brasil.

Haverá, sim, mudanças em Cuba quando cessar o bloqueio dos EUA; forem libertados os cinco cubanos presos injustamente na Flórida por lutarem contra o terrorismo; e se a base naval de Guantánamo, ora utilizada como cárcere clandestino - símbolo mundial do desrespeito aos direitos humanos e civis - de supostos terroristas for devolvida.

Não se espere, contudo, que Cuba arranque das portas de Havana dois cartazes que envergonham a nós, latino-americanos, que vivemos em ilhas de opulência cercadas de miséria por todos os lados: “A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana.” “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana.”


Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

Sobre o fim da CPMF

Acabei de pegar no site da Revista Caros Amigos. E olhe que o Roberto Manera não economiza nem o próprio Lula, mas os intitulados "partidos de oposição" não têm mesmo moral para cobrar algumas coisas. Até por que o mundo deve girar em torno do seu próprio umbido - seus interesses, como desde sempre - se não, não presta. Que cobrem, por exemplo, a investigação sobre o uso dos cartões corporativos, mas não amarelem nem seu discurso nem sua pretensa ética quando se trata de investigar o uso dos cartões corporativos do governo de São Paulo. Ou nos governos tucanos não se trata de dinheiro público? Bom, pelo histórico, eles tem certeza que o dinheiro e o patrimônio público só servem para serem transferidos ao capital privado, de preferência dentro das suas relações e aos seus financiadores...


Sobre o fim da CPMF
(de como o que dizem ser "política" fodeu o Brasil)

por Roberto Manera



Uns milhões de brasileiros e eu trabalhamos para que Lula fosse eleito presidente. Então, senhores congressistas, prestem atenção: o protocolo que vocês mesmos criaram proíbe que, nas ocasiões oficiais, o chamem de “Lula”, ou “Luiz Inácio” – vocês próprios não se tratam por “vossa excelência”?

Já eu e alguns milhões de pessoas que o elegeram podemos chamá-lo de Lula e, pior, de traidor. Nós não estamos na sua, excelências. Não defendemos situaçõezinhas pseudopolíticas, nem privilégios. Mas não queremos, de verdade, que nosso presidente faça vista grossa para o fato de que está sendo construída uma base norte-americana nesse pobre Paraguai, a uns metros de nosso quintal – nem que nosso representante máximo faça de conta que não entendeu a expressão “assassinato seletivo” – e só porque isso é contra as leis de qualquer deus; inclusive os de vocês. Fijaran-se ustedes en que inventaram essa expressão repulsiva para matar pessoas de quem Israel e os Estados Unidos desconfiam, na Palestina, no Afeganistão e nem sei mais em quantos países do mundo? E vocês ficam aí, nessa briguinha idiota, pra ver quien la tiene más grande? Aviso: não sei em quanto tempo, mas vão se dar mal. Seus netos não vão se orgulhar de seus discursos.

Quando Lula vai falar com Bush e o abraça, nós nos sentimos traídos. Porque “assassinato seletivo” não existe – é como boi voador, que não pode, e pronto, acabou-se. É assassinato.

Não queremos que o presidente defenda Chávez com frases como: “Não se pode dizer que não exista democracia na Venezuela”. Isso é tíbio – cuidadoso demais – e achamos que não há pessoa honesta que não compreenda o que o advento de Chávez, que foi eleito três vezes para um único mandato, representa para a Venezuela. Eu próprio a conheci quando era um miserável terreiro das petrolíferas americanas – e até hoje sinto náusea.

A maioria de nós não quer abrir as pernas para as facilidades que nos venderam com cinqüenta anos de filmes e livros e artigos e outras expelições de regra sobre essa bosta que vocês chamam de “democracia”. Que discrimina ricos e pobres como se cada um tivesse nascido para isso ou aquilo. Nós queremos viver em paz, com nossa música, nossos livros, nossos gibis, nossa ciência, nossos filósofos, nosso futebol, nosso samba, nossa salsa, a comida suficiente e algum cuidado com nossa saúde – mas não só para os escolhidos –, e sem os cartões de identidade que vocês e seus antecessores inventaram para nos vender como uma boiada a nossos maiores algozes – seus ocultos patrões, os bancos.

Não queremos viver nesse seu maravilhoso mundo globalizado como se isso fosse inevitável como a ciência dura que pretende reinventar vocês – e a nós. Pero nosotros, é outro aviso, sabemos que no pasarán.

Por isso, ordenamos a vocês que pressionem sua excelência o presidente, mas só para que ele se alinhe claramente com os sistemas mais desenvolvidos de nossa vizinhança. E façam isso respeitosamente, como cabe a meninos bem-educados.
Têm dúvida, seus babacas? Nós vamos ficar, pelo menos na história. Vocês vão passar – como conteúdo que se esvai pelos interceptores oceânicos de todo o Brasil e polui os mares – porque com todo o seu alegado “saber” vocês, parece, nunca compreenderam o que é ser cidadão deste país. Ou de qualquer outro.

Vão estudar. E não ousem traficar com o que um povo quer ser. Essa última frase é do Joan Manuel Serrat – “que no trafique el mercader con lo que un pueblo quiere ser”. Não é linda? Pois bem: só nós podemos usá-la, porque foi para gente como nós que Joan Manuel a compôs. Vocês, por enquanto, estão proibidos.

Isso tudo vem a propósito daquela palhaçada que a maioria de vocês fez ao revogar o imposto que o Fernando Henrique criou a pedido de um homem de bem – o doutor Adib Jatene – para dar um jeito no sistema brasileiro de saúde, e que ele próprio (FHC), com a sua (vossa) providencial ajuda, malversou a ponto de fazer o doutor Jatene dar às de vila-diogo. Viram o que conseguiram? Sentiram as marolas feitas na água até agora tão tranqüila da economia brasileira, com as braçadas dos eternos aproveitadores? As ameaças de aumento da inflação? Isso que vocês fizeram é política, porra? Não é por estar na sua (vossa) presença, meus prezados rapazes, mas vocês vão mal demais. Esta é do Chico. Não é linda?

Roberto Manera é jornalista.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

EUA vai materializar o voto eletrônico

Recebo do engenheiro Amilcar Brunazo, do Fórum Voto Seguro, informações sobre a preocupação das instituições dos Estados Unidos com a segurança do voto eletrônico. Uma medida que será adotada em 38 dos 50 estados nas eleições presidenciais deste ano é a materialização do voto eletrônico para permitir a conferência pelo eleitor e, caso necessário, auditoria e recontagem.
No Brasil, o projeto de lei 970/2007, apresentado pela deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP), sugere a materialização do voto eletrônico. Assim, é possível a conferência por parte do eleitor e auditoria e recontagem, se necessário, dando mais confiabilidade e transparência ao sistema eletrônico de votação. A aplicação da proposta foi considerada prioritária pela Sub-Comissão Especial de Segurança do Voto Eletrônico da Câmara dos Deputados. Quando o relatório foi apresentado, a polêmica, que ocorria nos bastidores, veio à público.
O TSE é resistente às sugestões apresentadas pela sociedade civil para aumentar a confiabilidade e transparência do sistema eletrônico de votação. O presidente do TSE foi à televisão para repudiar a iniciativa.
Itália, Holanda, Inglaterra são alguns dos países que baniram o sistema de votação puramente eletrônico por considerá-lo vulnerável, não confiável e oferecer risco ao sistema democrático por ser suscetível à falhas e manipulação.
Leia abaixo a mensagem do engenheiro que acompanha o sistema eletrônico de votação brasileiro - e sugere medidas para ampliar sua segurança e confiabilidade - desde sua implantação.
Olá,

Está disponível em:

http://www.sos.state.oh.us/sos/info/EVEREST/00-SecretarysEVERESTExecutiveReport.pdf

o relatório sobre segurança e confiabilidade dos sistemas eleitorais
eletrônicos utilizados no Estado de Ohio.

O estudo foi feito por duas equipes de cientistas (acadêmicos e
corporativos) e custou em torno de 2 milhões de Dolares. O Relatório
Executivo foi apresentado no dia 14 de dezembro de 2007 pela Secretária
de Estado Jennifer Brunner com comentários que se pode ver em:
http://www.sos.state.oh.us/sos/info/everest.aspx

Entre as recomendações do relatório para as eleições primárias e
presidenciais de 2008, todas feitas visando dar segurança e
confiabilidade do sistema eletrônico de votação e apuração, estão:

1- obrigatoriedade de materialização do voto para conferência EFETIVA do
voto pelo eleitor. Permissão do uso de máquinas de votar (de preencher o
voto);
2- probição do uso de urnas eletrônicas virtuais (chamadas DRE) do tipo
das urnas-e brasileiras;
3- apuração centralizada dos votos impressos por máquinas leitoras
óticas de alta performance e conseqüente proibição de apuração dos votos
nas seções eleitorais (pela urnas-e ou pelas leitoras óticas)

Com isso, já são 38 (de 50) os Estados dos EUA que, por questões de
segurança e confiabilidade, utilizarão máquinas com voto impresso
conferido pelo eleitor nas eleições de 2008.

Comparando esta situação com o Brasil, pode-se dizer que o Relatório de
Ohio é mais forte pancada na alegada "modernidade" do sistema eleitoral
brasileiro que é baseado em urnas-e cujo resultado não tem com ser
conferido (vide Caso de Alagoas, que passados 14 meses depois de
encontrado arquivos logs das urnas-e corrompidos, ainda nem se iniciou
uma auditoria técnica).

... e ainda tem um montão de fiéis do Santo Baite que acham que o
sistema eleitoral brasileiro é moderno e confiável.

[ ]s
Eng. Amilcar Brunazo Filho - Santos, SP
www.votoseguro.org
-----------------
SEI EM QUEM VOTEI,
ELES TAMBÉM,
MAS SÓ ELES SABEM QUEM RECEBEU MEU VOTO

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

É mole mesmo

Tem horas que não dá prá negar: o Governo Lula é mesmo mole em muita coisa. Já deveria ter ido à televisão deixar claro o que ocorre com a suspensão da CPMF pelos Demo e Tucnos. E por que foi forçado a aumentar a tributação sobre o lucro dos bancos e as operações financeiras. E também prá dizer que os trabalhadores com renda até três salários mínimos eram isentos da CPMF.
O Palácio deve ter pesquisas detalhadas e saber como os 72 milhões de brasileiros com renda até 2 salários mínimos estão compreendendo a situação.
Imagino eu que outro motivo para não convocar uma rede nacional é a viagem iminente de Lula à Guatemala e à Cuba. A convocação - garantia constitucional dos presidentes dos poderes - seria traduzida pela "isenta" mídia nacional como uma afronta à liberdade de expressão e ao trabalho "livre" que ela presta tão bem.
Seria bem rápida a associação com o 'ditador licenciado', ops, presidente licenciado, como passaram a chamar Fidel Castro depois que ele afastou-se da presidência do país, e com o "ditador" Hugo Chavez, já que as eleições, plebiscitos, referendos e recalls venezuelanos não valem nada aos olhos da democrática mídia nacional.
Peguei o vírus golpista da mídia tupiniquim e, aí, sim, para um golpe midiático é um pulo.

Pobre cachorrinha!

No recesso é possível se dar ao luxo desses ócios. Assisti, hoje pela manhã, na Rede Record, que uma 'dona-de-casa' gasta R$ 3 mil mensais com sua cachorrinha de estimação. Também vi aqueles que gastam fortunas semelhantes em festas de aniversário caninas por que "é nossa filha, igual a uma criança, que tem festa de aniversário". Tenho animais de estimação e, nem por um motivo, nem por outro, vejo necessidade para tamanha afronta ao bom senso.
A senhora dos 3 mil reais gasta com sua cachorra de estimação 8 salários mínimos mensais. O dobro da renda mensal de mais de 72% da população brasileira trabalhadora. Ah, sim, é a lógica do "pode pagar, tem, não pode, f...-se". Diretriz de tucanos e demos que livraram o "povo" da CPMF.
Sim, esta senhora pagaria, apenas na assistência à sua batalhadora cachorrinha, R$ 11,40 em CPMF.
Surpreendi-me ainda mais, à noite, quando soube que Gisele Bündchen receberá miseros R$ 1 milhão (R$ 1.000.000,00) por dois passeios na passarela do Rio Fashion Week. Ouvi há pouco na mesma Record. Ela os receberá livres da CPMF - R$ 3.800,00 - e, provavelmente, de outros impostos que pesam sobre a maioria da população. É claro que ela não pode ver "dilapidada" sua renda em 0,38% para destiná-los à saúde pública ou ao Bolsa Família. Sim, o valor cachê será transferido ao custo das roupas, pago pela massa que as comprarem. Mas isso ninguém fala. Na verdade, o vilão da história é o Poder Público que, com sua "elevada carga tributária" e "ineficiência" pretende transferir renda e um pouco de dignidade aos trabalhadores espoliados.
Desligado do mundo do jeito que sou, eu ainda pensava que existia elite no país. Cada dia tenho mais certeza que deve ser alguma perturbação intelectual da qual não consigo me desvencilhar. Que injustiça, a minha.
Prejudiciais, mesmo, são os serviços públicos que atendem a imensa maioria da população que não recebe por seu trabalho o suficiente para pagar um plano de saúde, uma aposentadoria privada, ou a comida suficiente para o mês. E aí, precisa de escola pública, saúde pública, moradia popular e, pasmem, até Bolsa Família prá comer três vezes ao dia. É muita desfaçatez!
Viva o Demo e o Tucano que defendem o povo. Graças a eles, a pobre cachorrinha e a suada Gisele estão livres da CPMF!!

No meu não...

Posto, abaixo, trecho das quase 20 páginas que resultou a nota do jornalista Daniel Piza, no Estadão. Quem quiser olhar todo o debate, é só clicar aqui, para ir ao blog do Piza.
Por que vale ler todos os comentários? Por que percebe-se o quanto se colocam como iguais os desiguais e como se consideram "injustiçados" os que têm um tanto de renda e pagam tributo sobre ela. Ficam praticamente esquecidos os que estão no topo da pirâmide, têm a maioria absoluta da riqueza e não são tributados. Ah, sim, também pode-se ler argumentos de rejeição a qualquer mudança social e qualquer evolução na busca de uma sociedade com justiça social, até alcançá-la plena e totalmente de uma só vez.
Espero que tenham paciência para ler.

07.01.08
No lombo da sociedade
por Daniel Piza, Seção: política s 15:51:18.
E alguém tinha dúvida de que o governo não teria competência para repor a CPMF a não ser com aumento de impostos? Mesmo com as promessas do presidente Lula, era evidente que a conta ia para o bolso do contribuinte mais uma vez. E alguém acredita que os cortes de R$ 20 bilhões serão realmente feitos? Lula certamente foi mais sincero quando disse que acha impossível governar o Brasil sem aumentar gastos públicos - afinal, assim tem sido em seu governo desde 2003 e nos anteriores... O que está por trás dessas notícias e declarações todas é a incapacidade de o país pensar suas reformas de verdade, com efeitos a médio e longo prazos, saindo do imediatismo de sempre. A sociedade já não agüenta a carga tributária. Mas quem disse que os políticos estão preocupados com a sociedade e não com o poder?

87 comentários

Comentários:
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 19:56
Olá, Daniel. É verdade, quanto às reformas. No Brasil não sai reforma tributária (por que quem proporcionalmente mais paga impostos são os pobres), não sai reforma agrária (para não haver inclusão dos pobres e para os latifundiários não perderem a 'garantia' dos financiamentos que raramente pagam), não sai reforma urbana (para não prejudicar os que vivem da especulação e da renda), não sai reforma educacional (para não prejudicar o mercado privado da educação), e por aí se vai. E não vão faltar "intelectuais da classe média" a me bombardear por que a reforma que querem é lucrar mais sem pagar nada e sem tirar grana de quem realmente tem. Durante o Governo FHC foram um pouco mais ousados ao criar a CPMF que taxou, durante 10 anos, renda que nunca foi pega por qualquer tributo. Já FHC, durante seu governo de 8 anos, não ousou aprovar a proposta que apresentou como parlamentar, de tributar as grandes fortunas.
É preciso uma reforma tributária sim, cobrando de quem tem riqueza e capital, mas como são estes que abrem os espaços para as "cabecinhas pensantes", ainda está longe deste país ter cara de justiça social.
Pretendo vir mais vezes espiar seu blog.
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 20:24
Para registro, a Suécia tem o 6º melhor IDH do mundo. Sua tributação é maior do que 1/3 e a desigualdade social é estrondosamente menor do que a brasileira.
A tributação incide mais sobre quem tem mais renda e mais capital. Eles estão entre os países do mundo que - diferente dos EUA - optaram pelo estado do bem estar social. São capitalistas, mas tanto a mão-de-obra quanto o trabalho intelectual são remunerados.
No Brasil, tudo está ao contrário. Primeiro, o lucro está acima de tudo. Não pagar CPMF por que? Para sonegar e aumentar o lucro? Não transferir renda às populações espoliadas?
E aí, quem paga impostos, fica torcendo prá não pagar nada e quer serviços de qualidade. Quer segurança pública para poder comprar droga no morro!! Repudia o Imposto de Renda e arruma jeitinhos para sonegar, mas nem imagina o filho fora da faculdade pública.
Ah, tem também os que se recusam a pagar tributos e correm aos financiamentos subsidiados do BNDES...
Enquanto a elite - e há sim elite neste país, por que há milhões de pobres miseráveis que mal conseguem comer trabalhando o dia todo - amontoa riqueza e ri da cara de quem se rebela contra o único governo remediado deste país que conseguiu ascender 20 milhões de pessoas.
Se o "justo mercado" não se encarrega de fazer distribuição de renda, faço a defesa do que já disseram alguns: o Estado precisa regular e coibir abusos de exploração. Ou quando o Estado age para defender os mais empobrecidos, já não pode interferir por que terá se tornado "grande e pesado demais"?
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 20:30
Por que ninguém comenta que o Super Simples reduziu a tributação sobre as micro, pequena e média empresas, que geram a grande maioria dos empregos neste país, mesmo levando a menor parte dos financiamentos públicos subsidiados? Por que, de hora para outra, os absurdos lucros dos bancos deixaram de ser 'ruins' e o aumento da CSLL de 9% para 15% tornou-se vilão?? Por que ninguém disse que os trabalhadores com renda até três salários mínimos sempre foram isentos da CPMF com compensação na contribuição sobre a Previdência Social? Opa, quem é o pobre assalariado a R$ 400,00 que o fim da CPMF vai ajudar??
Acesse o site do IBGE e veja a estratificação social por renda, no país. Se vc acessa um computador com Internet, já está bem melhor do que 160 milhões de brasileiros. E alguém está usando sua cabeça para proteger montanhas de dinheiro...
Comentário de: Daniel Piza [Membro]
07.01.08 @ 20:31
Bem, se o Estado leva 37% do que a economia produz e não devolve em benefícios sociais decentes, ele também é um agente concentrador de renda. Somos uma social-democracia apenas na carga tributária...
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 20:52
Atraso meu jantar... Não somos social-democracia nem na tributação. Quem tem menos renda paga proporcionalmente, duas vezes mais impostos do que pagam os que têm mais renda. Da arrecadação, 7% foram apenas para pagar juros das dívidas públicas. Eu não recebo nada desse percentual, por que não tenho conseguido economizar e, muito menos, dar financiamento ao governo. Também não sou isento de tributos, direta ou indiretamente, como são alguns setores da indústria ou do mercado financeiro. Não tenho empréstimo bancário subsidiado, como é o agronegócio ou como foram os compradores das estatais privatizadas.
Na verdade, democratizamos o tributo, que
não atinge os rendimentos e riquezas privilegiadas, e privatizamos os benefícios do Estado. Veja que, agora, todos viraram banqueiros, querendo livrar seu lucro da CSLL...
Cerca de 72 milhões de brasileiros tem renda até 2 salários mínimos. Destes, 50 milhões não tem renda nenhuma!! Não pagam nem CPMF, nem Imposto de Renda, nem IOF, ...
Mas pagam os embutidos que não podem sonegar ou os que lhe são transferidos indevidamente.
Nosso problema não está na carga tributária... Está na absurda injustiça social que relutamos em manter por não queremos que seja tributada nossa renda e não sabemos tributar o grande capital, por que nem fazemos idéia do tamanho que tem e preferimos não mexer com o desconhecido. Ah, sim, muitos patrões mandariam seus "pensadores" embora se defendessem isso...
Comentário de: Daniel Piza [Membro]
07.01.08 @ 20:57
Pois então, Sizan: há tantas corporações penduradas no Estado - empreiteiros, latifundiários, sindicatos, servidores - e tanta corrupção e ineficiência que nós, que pagamos impostos, não podemos usufruir de serviços decentes. E você quer um Estado com carga ainda maior? Marx diria que é preciso liberar as forças de produção para que a economia cresça e todos se beneficiem com a criação de empregos e o acesso a escolas. O Estado ajuda seus apaniguados apenas. Mudar a carga tributária é mudar seu padrão e sua dimensão. Uma coisa não adianta sem a outra.
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 21:31
Aff, meu jantar atrasa, mas é por que estou gostando do debate.
Já estou acostumado com a piadinha do Shazam... É praxe esperar um milagreiro.
Pulo para a parte das "tantas corporações - empreiteiros, latifundiários, sindicatos e servidores - e tanta corrupção e ineficiência", com os que concordo plenamente.
Acabei de perder, não sei como, um trechinho que estava escrevendo sobre isso. A corrupção não transfere renda para o Estado. Pelo contrário, suga dele. Direta, com aqueles que cometem o crime diretamente, ou indiretamente, por aqueles que buscam meios "legais" para cometê-la. Superfaturamento que não é descoberto, por exemplo. É apenas responsabilidade do poder público combatê-la? Ou a para a iniciativa privada vale o "se passar, passou e eu fico com o lucro"?
Vi, sexta-passada, o arremedo de contra-cheque de um amigo meu que trabalha 40 horas e sua renda está em torno de R$ 1 mil. O contra-cheque não permitia nem crediário em qualquer loja popular: 20 horas com remuneração de R$ 150,00!! Ah, sim, e a cada ano é renovado seu contrato temporário por apenas 10 meses. Ah, o crime só vai existir quando a fiscalização do poder público descobrir. É um subterfúgio legal.
Por que o crime só passa a existir quando é descoberto? Isso é o mesmo que 'jeitinho'?
Temos várias formas de reduzir a tributação sobre a classe média que, normalmente, tem toda a sua renda tributada.
Mas também temos que considerar que muita riqueza passa à margem da tributação e é esquecida.
E que quando houver distribução de renda e riqueza, também teremos serviços funcionando com mais eficiência. Não apenas por que o nível de exigência será maior, mas por que os sitemas públicos vão se livrar de reincidências provocadas pela exclusão social.
Só que, tratar de inclusão social, no Brasil, é muito mais delicado. É este o tema que precisa ser debatido mais profundamente.
Sua preocupação com as "corporações", é pertinente, mas privatizar estatais cujos compradores foram financiadas com recursos públicos subsidiados foi uma ação que reduziu o tamanho do Estado e não a carga tributária nem tirou o Brasil do FMI!!!
Por outro lado, quando Hugo Chavez usa recursos da PDVSA para financiar obras públicas nas favelas venezuelanas é visto como demagogo, como se acusa Lula de "comprar votos" com o Bolsa Família. As duas "acusações" são corriqueiras na mídia brasileira.
Por este raciocínio, se bem entendi, é válida a tranferência de recursos públicos para alimentar o lucro privado. E não a tributação para reduzir a desigualdade social??
Ah, sim, não imagine que os serviços públicos serão melhores se o percentual da carga tributária for menor sobre sua renda. Ou que a carga tributária será menor se os Estado for reduzido. Onde será reduzido? Veja as privatizações, alardeadas como "redução do Estado"...
Mas tenho certeza que tucanos e demos não criariam maiores quiprocós se a "saída" encontrada por Lula fose a extinção do Bolsa Família, ou um menor aumento salarial que, junto com o crescimento da economia, contribuíram para a inclusão de milhões de brasileiros, reduzindo a miséria e aumentando a "classe média".
Ah, sim, não pode "cortar o Estado" nos subsídios do BNDES à iniciativa privada. Eles pagam, por exemplo, cinco vezes menos pela mesma quantidade de energia que estamos gastando.
Me estendi... Paro, mas estarei por aqui.
Comentário de: Sizan Luis [Visitante] • http://blogdosizan.blogspot.com
07.01.08 @ 21:59
Me passou, mas retomo. Os serviços públicos estão ineficientes muito mais por sobrecarga do que por omissão ou inexistência.
Não é verdade que todos acorrem ao serviço público, até por que os serviços privados exigem o pagamento e mesmo se pagos, muitas vezes, não oferece o serviço?
A injusta concentração de renda resulta nessa situação, e mesmo assim cobra-se dos que menos têm e isenta-se os que têm mais.
Ou por quê, quando é oneroso demais, é o poder público quem "banca" o que a iniciativa privada alega não 'suportar'?
E quando há risco, não é o "Estado" que o suporta?
Mas vamos ao motivo da minha volta. Quando se elenca "servidores", na lista das corporações, e elas são reais e perversas, a que servidores se refere?
Professores, médicos, enfermeiros? Policiais? Fiscais do trabalho, auditores, defensores públicos, juízes? Técnicos judiciários, penitenciários, previdenciários? Engenheiros agrônomos, veterinários, técnicos agrícolas?
Não deixem me esquecer de continuarmos conversando. Abs.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O trabalhador era isento!!!

Dois dias depois da prorrogação da CPMF até 2010 ter sido rejeitada pelo Senado Federal, como uma "vitória estrondosa" da oposição e a "derrota acachapante" do presidente Lula, cuja ressonância é garantida pela mídia, postei a nota "Viva a injustiça social".
Criei cenários de justiça social ao trabalhador brasileiro para mostrar que, mesmo que houvesse um cenário semelhante no Brasil (o que ainda é a mais deslavada mentira, avisei) não eram os trabalhadores com renda até 5 salários mínimos que pagavam a CPMF. Se 100 milhões de brasileiros tivessem essa renda, eles arrecadariam apenas 1/4 da CPMF. Mas a mídia "isenta e independente" martelava, diariamente, o peso da CPMF sobre o pobre trabalhador brasileiro.
Em nenhum momento, no entanto, disse que o trabalhador com renda de até 3 salários mínimos era isento da CPMF, compensado com a redução na contribuição previdenciária. Quer dizer que nenhum trabalhador brasileiro com renda até 3 salários mínimos pagava CPMF? Diretamente, não pagava mesmo. E se alguém do Governo Federal ou dos partidos governistas falou isso, passou pela boa tesoura do jornalismo serviçal tupiniquin. Copa e cozinha (e cama) da elite brasileira.
Agora, no entanto, essa isenção anterior é alardeada aos quatro ou cinco ventos para inculcar que os trabalhadores serão penalizados por que incidirá sobre eles a contribuição previdenciária que deviam, mas da qual eram isentos para compensar a CMPF. Bem, eles sempre deveram - e pagaram religiosamente - sua contribução à Previdência Social - ao contrário de muitos patrões, que ficam até com parcela descontada do trabalhador.
Sobre o aumento do IOF, cobrado sobre as operações financeiras, nos casos de empréstimos bancários - a mídia ainda não conseguiu juntar as pontas para dizer que o trabalhador brasileiro vai pagar o aumento de .38 na alíquota. Poderia dizer que a tomada de crédito nas lojas ficará mais cara, e por aí adiante. Mas ainda não chegou lá.
Sobre o aumento da Contribuição Sobre o Lucro Líquido dos bancos, de 9% para 15%, já foi mais honesta, revelando a desonestidade comum de repassar ao consumidor final tudo o que pode pôr em risco o lucro - intocável - dos banqueiros, neste caso, mas prática comum da maioria dos empresários brasileiros, principalmente dos que estão no topo da pirâmide.
Essas duas mudanças resultarão na arrecadação de até R$ 10 bilhões que, já está avisado, os patrões darão jeito de transferir a quem lhe dá lucro, o peão trabalhador.
O corte de gastos de R$ 20 bilhões nas três esferas do poder público, que representa o maior montante do ajuste feito pelo Governo, não merece mais destaque do que o suficiente para dizer que serão cortados R$ 20 bilhões nos três poderes...
Fica claro que, o que se pretende, com empenho irrestrito da mídia brasileira, é dar legitimidade ao sistema de injutiça social, pelo qual os brasileiros de menor renda são os que, proporcionalmente, mais pagam tributos, mas os que mais choram - e mais são ouvidos - são os que recebem as maiores benesses do estado brasileiro.
Toda esta cantilena é uma preparação para uma possível reforma tributária, quando os donos dos veículos de comunicação, das grandes corporações, e do capital, leia-se do dinheiro, tratarão de ver reduzidos os impostos que deveriam pagar - e muitas vezes não pagam, por que empurram toda a conta para o consumidor final.
Enquanto isso, no meio do circo todo, a classe média come na mão da elite pelos grandes veículos de comunicação. E quando é questionada sobre o motivo pelo qual os donos do dinheiro não pagam seus tributos com seu próprio dinheiro, enfiam o rabo no meio das pernas, baixam a cabeça em reverência aos senhores - o lucro suado dos pobres, ingênuos, inocentes e justos membros da elite não pode ser dilacerado - e jogam a culpa, de novo, prá cima do Governo Federal que, por conta das políticas sociais, aumento real do salário mínimo e das aposentadorias e do crescimento real da economia - eventos desconhecidos durante os dois governos tucanos - fez mais de 20 milhões de brasileiros entrarem no mercado consumidor e terem um pouco do gostinho da cidadania, como escola, saúde e moradia, carne assada aos domingos e uma cervejinha gelada.
Inclusão social, realmente, gera ódio e revolta em quem acumula privilégios às custas da miséria alheia.
Vale dar uma lidinha no tratamento especial que o assunto está recebendo. A matéria da Folha é ótima.
Dá-lhe tucanada!!