sábado, 1 de março de 2008

Como é uma sociedade capitalista

A matéria do Marcos Losekan, sobre a Rússia (clique, para saber mais sobre o país), no Jornal Nacional de hoje, sábado, é uma aula de sociedade capitalista.
Tem VT do Papa, tem do assassinato do guerrilheiro número 2 das FARC e até de um galo catarinense, mas ainda não achei essa matéria da Rússia no site do JN para linkar aqui, mas sintetizo e emendo minha "análise":
eleições lá neste domingo e o candidato favorito é Dmitry Medvedev, apoiado por Vladimir Putin, que instituiu o capitalismo neoliberal na Rússia.
Hoje, o ex-país comunista tem a maior concentração de liberais e novas fortunas do planeta. 36 cidadãos concentram 10% do PIB!!! No outro extremo, tem 22% da população - ou quase 35 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e comendo lixo. Entre os 36 "cidadãos de sucesso", como seriam chamados por aqui, e os 35 milhões de "vagabundos e fracassados" que passam fome, 115 milhões de russos de "classe média" que darão a vitória a Medvedev. Sim, por que sonham que poderão ficar tão ricos quanto os 36 que concentram 10% do PIB, e acham maravilhoso o mundo capitalista de passeio no shopping e consumo "à vontade" (até que o dinheiro dê, mesmo que estourando o cartão de crédito, afinal, o sonho - ou a ilusão - de ser rico não tem preço).
Grosso modo, essa estratificação não é diferente no Brasil. Apenas aqui não é tratada assim, tão abertamente.
"Não tínhamos liberdade mas também não passávamos fome", traduziu Losekan de um catador de lixo. Liberade para ir ao shopping? Escola particular? Comer o mesmo que todos os outros russos? Ter plano de saúde e de aposentadoria particulares? Para viajar para onde quiserem? Ou para ir ao jornal, rádio e TV e falar o que quiser? Ou para reclamar sem que ninguém lhe dê ouvidos? Não me parece que quando não há o que comer, haja recursos para as "outras coisas boas" do capitalismo.
E quando ao ideal de justiça social? Bom, a atual classe média não vai ficar preocupada com "fracassados", nem olhando para o "passado comunista", por que o futuro é acreditar que pode chegar a ser um dos 36, afinal, tem todos os pré-requisitos e méritos suficientes para isso, como tem em qualquer lugar do mundo.
Vale como registro: o IDH russo ainda é elevado (0,802), por conta dos serviços sociais amplos que restaram do "comunismo". Maior que o brasileiro, depois de 500 anos de capitalismo e alguns de "milagre" neoliberal (0,800) e que motivou a chacota dos "revolucionários" de plantão por que, ano passado, o Brasil entrou no faixa dos "elevados".
O que vendem ao povo russo é o mesmo sonho que vendem em qualquer país capitalista. Daí, três deduções, considerando a história recente:
Somos todos uns otários a serviço de alguns poucos - uns até se dão conta, outros, nem isso.
O povo cubano tem mais um forte motivo para não abandonar o socialismo - como comemoraram os "libertários" aboletados nos EUA e outros cantos "democráticos" do planete - e vão levar isso em conta, até por que seu pior mal é o embargo criminoso dos EUA e não a alegada falte de "liberade individual".
Em toda a nação capitalista - e aqui não é diferente - a maior massa de manobra é a classe média, que usa da sua educação e dos seus argumentos para construir a injustiça social que interessa aos donos do capital. Por isso mesmo ouvimos urros indignados antes, durante e depois da reeleição de Lula.
Os fantoches não tinham dado conta do recado. Leia-se: derrotar Lula. Ou alguém ainda pensa que o "povão" pode falar no rádio, na TV e nos jornais? Ou até aqui, na Internet?
Daí também dá prá entender por que o "demagogo latino-americano" (kkk) continua vendo sua aprovação subir enquanto "o país se desmancha em corrupção", como se nunca houvera. Melhor agora, que, pelo menos, não fica escondida debaixo do tapete como faziam ficar a elite e boa parte da mída até pouco tempo e até a Polícia Federal arregaçou as mangas.
Por sua vez, o "povão" brasileiro aprendeu que pode ter opinião conforme vê seus interesses atendidos. Do mesmo jeitinho que fazem a classe média e a elite. Fico do lado do "povão" que, pelo menos, é a maioria de pessoas do país. Ah, tá, quando se atende à maioria "desqualificada" é populismo. Pô, desculpa aí. Então sou populista.

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