sábado, 23 de fevereiro de 2008

Sobre o fim da CPMF

Acabei de pegar no site da Revista Caros Amigos. E olhe que o Roberto Manera não economiza nem o próprio Lula, mas os intitulados "partidos de oposição" não têm mesmo moral para cobrar algumas coisas. Até por que o mundo deve girar em torno do seu próprio umbido - seus interesses, como desde sempre - se não, não presta. Que cobrem, por exemplo, a investigação sobre o uso dos cartões corporativos, mas não amarelem nem seu discurso nem sua pretensa ética quando se trata de investigar o uso dos cartões corporativos do governo de São Paulo. Ou nos governos tucanos não se trata de dinheiro público? Bom, pelo histórico, eles tem certeza que o dinheiro e o patrimônio público só servem para serem transferidos ao capital privado, de preferência dentro das suas relações e aos seus financiadores...


Sobre o fim da CPMF
(de como o que dizem ser "política" fodeu o Brasil)

por Roberto Manera



Uns milhões de brasileiros e eu trabalhamos para que Lula fosse eleito presidente. Então, senhores congressistas, prestem atenção: o protocolo que vocês mesmos criaram proíbe que, nas ocasiões oficiais, o chamem de “Lula”, ou “Luiz Inácio” – vocês próprios não se tratam por “vossa excelência”?

Já eu e alguns milhões de pessoas que o elegeram podemos chamá-lo de Lula e, pior, de traidor. Nós não estamos na sua, excelências. Não defendemos situaçõezinhas pseudopolíticas, nem privilégios. Mas não queremos, de verdade, que nosso presidente faça vista grossa para o fato de que está sendo construída uma base norte-americana nesse pobre Paraguai, a uns metros de nosso quintal – nem que nosso representante máximo faça de conta que não entendeu a expressão “assassinato seletivo” – e só porque isso é contra as leis de qualquer deus; inclusive os de vocês. Fijaran-se ustedes en que inventaram essa expressão repulsiva para matar pessoas de quem Israel e os Estados Unidos desconfiam, na Palestina, no Afeganistão e nem sei mais em quantos países do mundo? E vocês ficam aí, nessa briguinha idiota, pra ver quien la tiene más grande? Aviso: não sei em quanto tempo, mas vão se dar mal. Seus netos não vão se orgulhar de seus discursos.

Quando Lula vai falar com Bush e o abraça, nós nos sentimos traídos. Porque “assassinato seletivo” não existe – é como boi voador, que não pode, e pronto, acabou-se. É assassinato.

Não queremos que o presidente defenda Chávez com frases como: “Não se pode dizer que não exista democracia na Venezuela”. Isso é tíbio – cuidadoso demais – e achamos que não há pessoa honesta que não compreenda o que o advento de Chávez, que foi eleito três vezes para um único mandato, representa para a Venezuela. Eu próprio a conheci quando era um miserável terreiro das petrolíferas americanas – e até hoje sinto náusea.

A maioria de nós não quer abrir as pernas para as facilidades que nos venderam com cinqüenta anos de filmes e livros e artigos e outras expelições de regra sobre essa bosta que vocês chamam de “democracia”. Que discrimina ricos e pobres como se cada um tivesse nascido para isso ou aquilo. Nós queremos viver em paz, com nossa música, nossos livros, nossos gibis, nossa ciência, nossos filósofos, nosso futebol, nosso samba, nossa salsa, a comida suficiente e algum cuidado com nossa saúde – mas não só para os escolhidos –, e sem os cartões de identidade que vocês e seus antecessores inventaram para nos vender como uma boiada a nossos maiores algozes – seus ocultos patrões, os bancos.

Não queremos viver nesse seu maravilhoso mundo globalizado como se isso fosse inevitável como a ciência dura que pretende reinventar vocês – e a nós. Pero nosotros, é outro aviso, sabemos que no pasarán.

Por isso, ordenamos a vocês que pressionem sua excelência o presidente, mas só para que ele se alinhe claramente com os sistemas mais desenvolvidos de nossa vizinhança. E façam isso respeitosamente, como cabe a meninos bem-educados.
Têm dúvida, seus babacas? Nós vamos ficar, pelo menos na história. Vocês vão passar – como conteúdo que se esvai pelos interceptores oceânicos de todo o Brasil e polui os mares – porque com todo o seu alegado “saber” vocês, parece, nunca compreenderam o que é ser cidadão deste país. Ou de qualquer outro.

Vão estudar. E não ousem traficar com o que um povo quer ser. Essa última frase é do Joan Manuel Serrat – “que no trafique el mercader con lo que un pueblo quiere ser”. Não é linda? Pois bem: só nós podemos usá-la, porque foi para gente como nós que Joan Manuel a compôs. Vocês, por enquanto, estão proibidos.

Isso tudo vem a propósito daquela palhaçada que a maioria de vocês fez ao revogar o imposto que o Fernando Henrique criou a pedido de um homem de bem – o doutor Adib Jatene – para dar um jeito no sistema brasileiro de saúde, e que ele próprio (FHC), com a sua (vossa) providencial ajuda, malversou a ponto de fazer o doutor Jatene dar às de vila-diogo. Viram o que conseguiram? Sentiram as marolas feitas na água até agora tão tranqüila da economia brasileira, com as braçadas dos eternos aproveitadores? As ameaças de aumento da inflação? Isso que vocês fizeram é política, porra? Não é por estar na sua (vossa) presença, meus prezados rapazes, mas vocês vão mal demais. Esta é do Chico. Não é linda?

Roberto Manera é jornalista.

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