sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O neocarola candidato a coroinha do Brasil

Na tentativa desesperada (e derradeira) de tentar chegar à Presidência da República, José Serra atrasa o debate político ao "vestir a fantasia de neocarola" e usar de má fé a fé do povo. Serra resgata dos discursos mais atrasados e totalitaristas e menos democráticos do passado brasileiro na sanha de atingir seu "sonho de menino" de brincar de ser presidente. Tenho repetido que José Serra usa os mesmos argumentos da TFP (Tradição-Família-Propriedade) que, junto com a mídia, a elite patrimonialista, industrial e agrária do país golpeou a democracia e levou o Brasil para o buraco de 21 anos de ditadura. José Serra se agarra aos argumentos de quem, no passado, disse combater. Fo**-se a Nação - ou o fiapo que há dela. O que ele quer é realizar seu desejo pessoal, nem que para isso tenha que se aliar aos seus (?) algozes do passado. Quem abriu mão das suas convicações políticas? Ou das que dizia ter?

Jornal Folha de São Paulo

Sexta-feira, 15 de outubro de 2010 Opinião A2
Deus: uma regressão política
FERNANDO DE BARROS E SILVA


SÃO PAULO - Boris Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
FHC - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
FHC - Perdão, foi num almoço, sobre esse mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não faria.
FHC - É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de quem quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao senhor Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.
Casoy - A pergunta não foi respondida. Não se trata de armadilha, nem de convicção pessoal.
O diálogo acima é famoso. Foi travado durante um debate feito a pouco dias da eleição para a prefeitura paulistana, em 1985. Jânio Quadros, que não estava presente, acabou eleito, para surpresa geral. A democracia engatinhava no país.
Hoje, 25 anos depois, podemos deduzir várias coisas dessa viagem no tempo. Uma delas: os progressistas eram menos cínicos. Quem entra no jogo eleitoral hoje está muito mais preparado para mentir. Sobre tudo, inclusive sobre Deus.
FHC foi pego de surpresa pela pergunta. Ela podia ser jornalisticamente legítima, mas a ele parecia evidente que a pauta (uma "armadilha") era politicamente regressiva. Isso também mudou muito.
A despeito das conquistas do país, a campanha hoje está sob o impacto de um intenso cerco conservador, sobretudo nos costumes.
Dilma parece disposta a fazer todas as concessões ao lobby religioso, o que é grave. Mas foi Serra quem arrastou esse cortejo do atraso para o centro da disputa política. Ao vestir a fantasia do neocarola, o tucano age mais ou menos como aqueles que acusavam FHC de ser ateu há um quarto de século.

Nenhum comentário: