quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O trabalhador era isento!!!

Dois dias depois da prorrogação da CPMF até 2010 ter sido rejeitada pelo Senado Federal, como uma "vitória estrondosa" da oposição e a "derrota acachapante" do presidente Lula, cuja ressonância é garantida pela mídia, postei a nota "Viva a injustiça social".
Criei cenários de justiça social ao trabalhador brasileiro para mostrar que, mesmo que houvesse um cenário semelhante no Brasil (o que ainda é a mais deslavada mentira, avisei) não eram os trabalhadores com renda até 5 salários mínimos que pagavam a CPMF. Se 100 milhões de brasileiros tivessem essa renda, eles arrecadariam apenas 1/4 da CPMF. Mas a mídia "isenta e independente" martelava, diariamente, o peso da CPMF sobre o pobre trabalhador brasileiro.
Em nenhum momento, no entanto, disse que o trabalhador com renda de até 3 salários mínimos era isento da CPMF, compensado com a redução na contribuição previdenciária. Quer dizer que nenhum trabalhador brasileiro com renda até 3 salários mínimos pagava CPMF? Diretamente, não pagava mesmo. E se alguém do Governo Federal ou dos partidos governistas falou isso, passou pela boa tesoura do jornalismo serviçal tupiniquin. Copa e cozinha (e cama) da elite brasileira.
Agora, no entanto, essa isenção anterior é alardeada aos quatro ou cinco ventos para inculcar que os trabalhadores serão penalizados por que incidirá sobre eles a contribuição previdenciária que deviam, mas da qual eram isentos para compensar a CMPF. Bem, eles sempre deveram - e pagaram religiosamente - sua contribução à Previdência Social - ao contrário de muitos patrões, que ficam até com parcela descontada do trabalhador.
Sobre o aumento do IOF, cobrado sobre as operações financeiras, nos casos de empréstimos bancários - a mídia ainda não conseguiu juntar as pontas para dizer que o trabalhador brasileiro vai pagar o aumento de .38 na alíquota. Poderia dizer que a tomada de crédito nas lojas ficará mais cara, e por aí adiante. Mas ainda não chegou lá.
Sobre o aumento da Contribuição Sobre o Lucro Líquido dos bancos, de 9% para 15%, já foi mais honesta, revelando a desonestidade comum de repassar ao consumidor final tudo o que pode pôr em risco o lucro - intocável - dos banqueiros, neste caso, mas prática comum da maioria dos empresários brasileiros, principalmente dos que estão no topo da pirâmide.
Essas duas mudanças resultarão na arrecadação de até R$ 10 bilhões que, já está avisado, os patrões darão jeito de transferir a quem lhe dá lucro, o peão trabalhador.
O corte de gastos de R$ 20 bilhões nas três esferas do poder público, que representa o maior montante do ajuste feito pelo Governo, não merece mais destaque do que o suficiente para dizer que serão cortados R$ 20 bilhões nos três poderes...
Fica claro que, o que se pretende, com empenho irrestrito da mídia brasileira, é dar legitimidade ao sistema de injutiça social, pelo qual os brasileiros de menor renda são os que, proporcionalmente, mais pagam tributos, mas os que mais choram - e mais são ouvidos - são os que recebem as maiores benesses do estado brasileiro.
Toda esta cantilena é uma preparação para uma possível reforma tributária, quando os donos dos veículos de comunicação, das grandes corporações, e do capital, leia-se do dinheiro, tratarão de ver reduzidos os impostos que deveriam pagar - e muitas vezes não pagam, por que empurram toda a conta para o consumidor final.
Enquanto isso, no meio do circo todo, a classe média come na mão da elite pelos grandes veículos de comunicação. E quando é questionada sobre o motivo pelo qual os donos do dinheiro não pagam seus tributos com seu próprio dinheiro, enfiam o rabo no meio das pernas, baixam a cabeça em reverência aos senhores - o lucro suado dos pobres, ingênuos, inocentes e justos membros da elite não pode ser dilacerado - e jogam a culpa, de novo, prá cima do Governo Federal que, por conta das políticas sociais, aumento real do salário mínimo e das aposentadorias e do crescimento real da economia - eventos desconhecidos durante os dois governos tucanos - fez mais de 20 milhões de brasileiros entrarem no mercado consumidor e terem um pouco do gostinho da cidadania, como escola, saúde e moradia, carne assada aos domingos e uma cervejinha gelada.
Inclusão social, realmente, gera ódio e revolta em quem acumula privilégios às custas da miséria alheia.
Vale dar uma lidinha no tratamento especial que o assunto está recebendo. A matéria da Folha é ótima.
Dá-lhe tucanada!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito tendenciosa a sua análise, caro Sizan. Quer dizer que a criação do Real e o controle da inflação não significaram nada? Que a ascensão social destes 20 milhões de brasileiros não faz parte de um processo com raízes anteriores ao atual governo?

Sizan Luis disse...

Caro Anônimo. Bom receber seu comentário. Mas perceba que você está falando de uma coisa só. O Real foi criado com o objetivo de controlar a inflação, depois de sucessivos planos fracassados.
Por tabela, resultou em "transferência de renda", já que a inflação não corroía, de um dia para o outro, a renda do trabalhador. Também em 10 anos sem correção na tabela do Imposto de Renda, nenhum aumento real ao salário mínimo, rios de dinheiro transferidos à iniciativa privada... Os indicadores sociais mostram que houve crescimento significativo na renda daqueles poucos que são os mais abastados.
Estamos falando de inclusão social que, sem dúvida alguma, poderia ter sido feita com êxito no Governo FHC.
No entanto, a principal tranferência de renda que se verificou naquele período foi a do patrimônio público para a iniciativa privada. Financiada com recursos públicos subsidiados. Nem assim a saúde e a educação pública melhoraram, apesar de a máquina do estado ter sido enxugada...
A fase do "pão, do frango e da dentadura", inflada pela mídia, durou tanto quanto precisou a campanha da reeleição. O Brasil quebrou logo depois e houve refluxo do que havia se avançado. Como o Brasil não surgiu hoje, sempre existirão "raízes". Bem que elas trazem mais exclusão e preconceito do que o contrário. Obrigado pelo alerta quanto ao "muito tendenciosa". Mas também não quero ser tão "independente e isento" quanto é a grande imprensa. Volte mais vezes. Obrigado.